Encontrar Conforto no Desconforto
EP 8 - NUNCA É TARDE
Hoje trago-vos uma frase que, se já vieram às minhas aulas, já ouviram mais do que uma vez:
👉🏽 “Encontra conforto no desconforto.”
Eu digo isto tantas vezes que às vezes até me rio sozinha. Mas é sério. É das frases mais importantes da minha vida. E hoje quero contar-te porquê.”
Quando estamos numa postura de yoga desconfortável, a primeira reação é:
Isto dói.
Não vou conseguir.
Estou a falhar.
Mas o mais giro é que, fora do tapete, fazemos o mesmo.
Há quem fuja para o scroll no Instagram. Há quem fuja para o frigorífico.
Outros fogem para o trabalho, para o álcool, para relações que nem fazem sentido — tudo para não sentir o que está ali a pedir atenção.
E eu? Durante anos a minha fuga era a queixinha.
Quando algo me desconfortava — uma situação, uma crítica, um medo — a voz que surgia era:
Sou uma porcaria.
Nunca faço nada bem.
Não sou boa o suficiente.
E depois passava horas — às vezes dias — a queixar-me da vida, à procura de alguém que me dissesse: ‘Pois é, coitadinha.’
O drama era real.”
Momento de viragem: o que o yoga ensinou
“Até que o yoga me começou a mostrar outra coisa:
Que fugir só aumenta o peso do que se sente.
Que o problema não era o desconforto — era o que eu fazia com ele.
E aprendi a ficar.
Ficar sem contar a ninguém. Ficar sem dramatizar.
A respirar, a olhar de frente, a perceber que às vezes o desconforto está só a mostrar-me onde ainda me estou a abandonar.
E aqui é onde entra a parte mais profunda desta conversa.”
Aversão à Dor
Na filosofia do yoga, há um conceito chamado kleśas. São os obstáculos mentais e emocionais que nos causam sofrimento. E um deles chama-se Dveṣa — a aversão à dor.
É exatamente isso: quando sentimos algo desconfortável — físico, emocional, mental — a tendência é querer sair a correr.
É automático. Fugimos do que dói. Mas o que o yoga nos ensina é que é essa fuga que nos mantém presos.
A dor, o desconforto, o medo — são inevitáveis. Mas sofrer por fugir deles... isso sim é opcional.
O Dveṣa só perde força quando começamos a fazer o oposto:
Ficar. Observar. Respirar.
Não é heroísmo — é prática. É consciência.
3 passos para encontrar conforto no desconforto
Então o que é que me tem ajudado a mudar isto?
1️⃣ Reconhece.
Pára. Sente. Assume: ‘Isto está a doer. Isto está a mexer comigo.’ Só esse reconhecimento já abre espaço.
2️⃣ Respira.
Mesmo que seja desconfortável — respira. O corpo sabe o que fazer se lhe deres tempo.
3️⃣ Explora com curiosidade.
Em vez de julgar, pergunta: ‘O que é que isto me está a mostrar?’ Não é para resolver já. É só para não fugir.
E sim, às vezes não vais conseguir. Mas tudo bem — voltas no dia seguinte e tentas de novo.
Isso é prática.
Reflexão
“Quando dizes sim ao desconforto, estás a dizer sim a ti.
Estás a dizer: Estou disposta a crescer, mesmo que não seja bonito.
Estás a dizer: Não vou fugir de mim.
O yoga no tapete é só treino — o verdadeiro desafio é fora dele.
Por isso, se hoje estiver difícil, lembra-te disto:
Fugir é instinto. Ficar é escolha.
E todos os dias temos a oportunidade de escolher.
Se isto te tocou de alguma forma, partilha esta página ou envia-me mensagem.
E da próxima vez que ouvires a tua mente a dizer ‘sai daqui!’, talvez consigas parar só por um segundo… e ficar.
Um beijinho e até breve.
Cristina
“A cura da dor está na dor em si”
-Rumi